O abhaya mudrá é o gesto representado nas esculturas de Shiva em seu aspecto Natarája, Shiva como Rei dos Bailarinos. Pode ser usado como um canal de acesso ao inconsciente para encontrarmos maior identificação com as origens ancestrais do Yôga antigo.
As estátuas de Shiva Natarája apresentam um homem com quatro braços, estável sobre uma só perna e pisoteando um anão. Um erro muito comum é o de supor tratar-se de uma mulher, devido à posição arqueada de quadris que o personagem executa. Referir-se “a deusa Shiva de seis braços” é um erro crasso que chega a ser ofensivo para algumas pessoas. Mas isso se explica. A figura de Shiva Natarája é sinuosa e o olhar ocidental (acostumado com as formas das esculturas gregas e romanas) a interpreta como, no mínimo, andrógena. A verdade é que essa sinuosidade foi a forma que o escultor encontrou para representar movimento, ou seja, Shiva está dançando. Os cabelos soltos e os dois braços a mais também são para simbolizar a mesma coisa. A tradição conta que Shiva executa o Tándava, uma dança tradicional indiana na qual apenas os homens podem participar, executada percutindo-se os pés no chão com força. A única mulher autorizada a dançar o Tándava é Kálí.
Além do abhaya mudrá, a escultura de Shiva Natarája é repleta de outros símbolos. Alguns deles serão estudados mais à frente pois possuem aspectos evidenciados em outros mudrás.
Os mais importantes são:
Avídya
A ignorância é representada aqui na forma de um anão. Avídya é o demônio da ignorância (a – sem; vídya – conhecimento) e sua coluna é estraçalhada pela dança de Shiva, que o pisoteia e o mantém subjugado através de seus movimentos. As estátuas mais detalhadas mostram que, apesar de ser uma coisa anã, baixa, Avídya porta uma faca e uma serpente peçonhenta, como que a avisar sobre o quanto a ignorância pode ser perigosa.
Nága
A naja é a considerada a rainha de todas as serpentes por ser a mais perigosa delas. Nas pinturas de Shiva, ele sempre é retratado com várias serpentes enroladas nos braços, tornozelos, cabelos e no pescoço. Ao ser apresentado assim, os artistas queriam mostrar que ele conquistou a morte. Mas nága tem um outro significado bem interessante no contexto da Nossa Cultura. A serpente enroscada é uma alusão à kundaliní, uma energia física, de natureza neurológica e de manifestação sexual. Amestrar a kundaliní é passo fundamental da prática de qualquer metodologia séria de autoconhecimento.
Agni
Um dos motivos pelos quais o fogo possui uma forte simbologia associada com Shiva foi um fato curioso observado na natureza. Os antigos observaram que alguns tipos de sementes somente germinariam após um incêndio na floresta. Esse evento destrutivo era necessário para fazer desabrochar plantas que, sem ele, jamais nasceriam. Daí, entendemos que do fogo da mudança e das transformações, podem surgir a vida, a beleza e a arte. De certa forma, sempre que mudamos para a melhor, abandonando velhos hábitos em prol de novos, mais saudáveis e inteligentes, são as poderosas energias de Shiva se manifestando em nosso interior.
Damaru
Aquele tambor de duas faces parecido com uma ampulheta que Shiva segura com a mão direita é uma representação para a música e a dança. Seria impensável uma figura que dança, mas sem música e o rei dos bailarinos dança ao som do Damaru. Além disso, é também um símbolo para o conceito de tempo. A mitologia conta que Shiva sustenta o tempo e o próprio universo com o som de seu tambor e com sua dança.
Além destes principais, ainda existem ouros simbolos secundários na figura que são: Chandra (a meia lua posicionada na testa da imagem), Gañgá (a nascente do rio ganges nos cabelos de Shiva), jutajata (o penteado dos cabelos, representando a sua ascenção social), entre outros.
Fonte: http://www.gestoancestral.com.br
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